Está na hora de cancelarmos a cultura na qual toda vez que alguém reclama as pessoas chamam de "mimimi".
Olá meninas (e meninos)! Sejam bem vindos a mais um #desconstruindo. Eu costumo postar nessa categoria toda segunda-feira, mas ontem me enrolei e vi que não daria para eu entregar o post em um horário favorável - com a qualidade que eu gosto. Então preparei com carinho e venho nesta terça-feira trazer um assunto que precisa ser desconstruído: a cultura de pensar que tudo é "mimimi".
Primeiro, você entende de fato o que é "mimimi"? É quando nos referimos à manha. A criança costuma fazer tempestade de copo d'água, isso chamamos de mimimi. Ultimamente essa expressão vem em referência às reclamações sobre piadas e afirmações com fundos preconceituosos.
Houve uma época - longa, inclusive - em que fazer piadas sobre mulheres, gays, transgênero, negros, etc. era ok. Mas o tempo foi passando e as pessoas começaram a perceber que muitas dessas piadinhas ofendiam os grupos que eram satirizados. Chamar um homem de "mulherzinha" significava que nenhum homem teria orgulho em ser mulher, que mulheres são motivos de chacota - o mesmo vale para o "viado", por exemplo.
Ao invés das pessoas aceitarem que faziam comentários preconceituosos, por mais que elas não quisessem ser maldosas ao fazerem esse tipo de comentário, elas resolveram aderir o termo "mimimi". Então, se uma trans reclama que se sente ofendida ao chamarem ela de "mulher" (com aspas), ou fazerem chacota do fato de ela ser trans, virou mimimi. Ninguém liga se ela se ofende, é mimimi. Ela luta todos os dias para ser aceita na sociedade e quando manifesta o descontentamento com uma ofensa, ainda falam que é mimimi.
Sabe por que as pessoas pesam que é mimimi? Por que não é a dor delas. Elas não querem se colocar no lugar do outro, nem assumir a responsabilidade de seus atos. Mais uma vez, surge a falta o pensamento no coletivo.
Eu cresci ouvindo piadinhas preconceituosas! Não estou falando em casa. Digo na televisão (séries, filmes, novelas, programas...), em livros, revistas, na escola, no trabalho... sempre estiveram aí. Eu mesma já falei muita coisa errada no passado. Mas eu abri minha cabeça, me coloquei à disposição para aprender, ainda estou aprendendo inclusive. Fui pesquisar por que o xingamento "baiano" é tão errado! Fui entender por que chamar alguém de gordo de forma pejorativa é gordofobia. A lista é infinita, de verdade. Eu aprendi muita coisa dando ouvido e não chamando de mimimi.
Se você parar pra ouvir, se você decidir aprender, você vai ver que nada, absolutamente nada, é mimimi. Tudo tem um por quê. As dores dos outros têm que ser ouvidas, têm que ter espaço na sociedade.
Enquanto continuaremos usando o mimimi como muleta para nossa cegueira, nossa ignorância, nosso preconceito, continuaremos tendo desigualdade de gênero, social, racial, e cultural.
Nesse final de semana tivemos o caso da cantora e compositora Marília Mendonça, que fez um comentário em forma de gozação sobre uma vez em que um musico de sua banda ficou com uma mulher trans. Ela dá ênfase à palavra "mulher", como se mulher trans não fosse realmente mulher, mas sim um tipo de aberração e que é muito engraçado um homem ficar com uma mulher trans.
Não, não é engraçado. Não vamos alimentar isso. Mostrar para os homens que ficar com mulher trans os torna gays, muito menos que ser gay em si é motivo para fazer piadinha em uma live.
A Marília errou, errou feio. Ela logo deu uma resposta pedindo desculpa (o que eu achei ótimo da parte dela), mas o pior não foi o erro dela. Foram os comentários das pessoas nas publicações a respeito disso. Todo mundo chamando de mimimi, dizendo que não se pode mais fazer piada em 2020.
Não. Realmente NÃO pode mais fazer piada deste tipo em 2020. Já passou da hora das pessoas aprenderem que quando ofende um grupo, não é mais piada. É preconceito. É falta de empatia e respeito. Aprendam a desconstruir. Abram suas mentes! Precisamos dar ouvido aos outros. Se a própria Marília assumiu o erro e disse que quer aprender, por que vocês não aproveitam para aprender também?
Não dói gente. Desconstruir não dói nada. Agora, ser alvo de ofensa, de piadinha, de "fobias" e outros preconceitos, dói. Dói demais. Ver uma cantora fazendo piada sobre mulheres trans dói! Não em mim, mas nas trans e em muitas pessoas da comunidade LGBTQ+.
Respeitem a dor do outro. Não é mimimi.
Se algum dia te disseram que sua dor é mimimi, saiba que não é. Não deixem as pessoas menosprezarem sua luta e seus motivos. Insista, explique. Sim, precisamos explicar, temos que ter muita paciência, porque ninguém aprende da noite pro dia - ainda mais aqueles que não querem aprender. Mas não podemos nos calar, jamais. Não deixe comentários como o mimimi te pararem. Manda sua mensagem, exponha seus sentimentos, porque a menor das sementes sempre é plantada. Com o tempo, com muita insistência e paciência, a maioria das pessoas aprendem. Se você se ofende com alguma piada ou comentário, seja um porta-voz. Quando você expõe, você está ajudando todas outras pessoas que passam pelo mesmo!
A mudança está acontecendo e não podemos desistir. Por isso decidi fazer esse post. Eu acredito que podemos chegar nas pessoas e aos poucos ir desconstruindo velhos hábitos. Espero que tenham gostado do #desconstruindo de hoje! Semana que vem volto com mais. Se você é novo(a) por aqui, aproveita pra assinar a newsletter la embaixo no final dessa pagina, assim você não perde nenhuma publicação nova!
Um abraço,
50 Tons de Mulher.
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